Vi no carnaval de 2007 o filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças. A música-tema, Everybody’s got to learn sometime, uma regravação de Beck ainda mais arrasadora (e bela) que a original, toca inteira no fim e fica na cabeça durante muito tempo. A vontade é repetir, repetir, repetir. E fazer voltar alguns dos sentimentos vividos durante a história de Joel e Clementine.
Nesse filme, o personagem de Jim Carrey é o oposto de todos os anteriores: tímido, calado, fechado, contido até nos movimentos. Não há comicidade alguma nele, o que só o faz contrastar mais ainda com a garota de cabelos azuis/verdes/vermelhos/cor-de-rosa vivida por Kate Winslet. Um casal que tem tudo para dar certo não pelas identificações, mas pela complementaridade.
O relacionamento, no entanto, não corre bem, e logo a impulsiva moça do casal – e isso está na sinopse, não corro o risco de estragar o filme para quem não viu – decide lançar mão dos serviços de uma empresa que “apaga memórias”. Até aqui, nada de tão criativo: já fomos apresentados à idéia da manipulação de conteúdos do cérebro em outros filmes. O que comove neste é que o amor supera a tecnologia, a ciência, as predições e mesmo a relutância humana em enfrentar as más lembranças. Prevalece um violento desejo de recomeçar não do zero, mas dos fracassos. Everybody’s got to learn sometime.
Da história, na época, ficaram-me dois sentimentos bem marcados: um, mais evidente, a ausência de alguém em quem depositar as esperanças de uma cumplicidade e uma intimidade totais; outro, aliviador, a alegria de saber que minhas memórias jamais serão tiradas de mim – e que em Deus, o Pai de todo sentido, as dores não foram em vão.
Adendo de 2019: Vi o filme em 2007. Meses depois, conheci André, com quem me casei em 2010. Percebi que, através desse filme, Deus estava mexendo nesses sentimentos antigos para que eu começasse a me preparar para o relacionamento mais importante da minha vida. 🙂