Obs. Esse texto é um resumo de uma LIVE que fiz no Instagram, disponível em breve no canal Teologia & Beleza do YouTube.
Os três eixos de minha formação são esses: literatura, teologia e consultoria de imagem.
Sou formada em Letras — sempre amei literatura e, depois de tentar psicologia e jornalismo, sem gostar, resolvi seguir minha paixão. Na época nem pensava em dar aulas. Optei por Português-Francês, já que havia começado a estudar a língua aos 11 anos.
Eu me converti na graduação e foi muito doloroso perceber que os estudos literários pressupunham uma cosmovisão ateia/agnóstica, com grande ênfase na negação da transcendência. Admitia-se a ânsia do homem por algo além, mas colocava-se a arte nesse lugar: a única transcendência verdadeira e/ou possível era a arte.
Sofri uma agonia intensa no mestrado e no doutorado porque queria entender a relação entre a arte e a verdadeira transcendência, segundo a fé cristã, mas não conhecia autor que trabalhasse a partir desse pressuposto. E isso também não estava claro para mim na época. O único autor de que realmente gostei foi René Girard, mas foi só depois do doutorado que eu reconheci isso ao ponto de entender seus conceitos, que me foram de grande valia acadêmica e existencialmente.
Em 2005, eu tinha aberto um blog onde escrevia sobre todas essas coisas. Através do blog, conheci os queridos amigos Augustus Nicodemus, Solano Portela, Mauro Meister e Davi Charles Gomes, que foram muito importantes para me estimular, fortalecendo em mim a convicção de que eu podia abençoar a igreja através de meus textos. Eles viram um grande valor no que eu escrevia, mesmo eu não tendo estudo teológico formal. Davi me estimulou a fazer uma pós no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ), no Mackenzie, que ele mesmo organizou e dirigia na época. Eu amei a ideia.
Depois que terminei o doutorado, conheci André (meu marido) e me mudei para São Carlos, onde ele morava e onde nós nos casamos. Comecei então a estudar no CPAJ, na sub-área Teologia Filosófica, e foi um divisor de águas para minha cosmovisão. Considero o livro Calvinismo, de Abraham Kuyper, a “abertura de portões” para a tradição reformada, com uma solidez maior de cosmovisão cristã. Eu e André lemos juntos e ele também foi grandemente impactado.
Outros autores que me marcaram e ainda são norteadores para mim são Cornelius Van Til*, Herman Dooyeweerd** e John Frame***. São leituras que me fazem glorificar a Deus. É interessante dizer isso, mas eu glorifico mais a Deus com esse tipo de leitura, que “arruma” a mente e debate de modo profundo as três pontas do conhecimento — quem é Deus, o que é o mundo e quem somos nós. Livros do tipo devocional até acho importantes, mas não me aquecem tanto o coração, provavelmente porque sou uma pessoa teorética: na compreensão organizada das verdades de Deus — e aqui não é uma organização sistemática necessariamente, muito pelo contrário — eu sou fortalecida de modo especial. Mas atenção: eu me beneficiei grandemente da leitura copiosa de Francis Schaeffer**** antes deles. Recomendo que você também o faça.
No meio do CPAJ, Jonas Madureira me convidou para compilar os artigos do blog em livro, publicado em 2012 pela Vida Nova com o título A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã. Nele, eu critico tanto a cultura materialista e totalitária de nosso tempo quanto a teologia liberal que invadiu parte dos seminários do país; mas também contei como me converti, “pescada” com jazz ao vivo dentro de um supermercado, e redigi peças curtas de ficção. Do livro, são os textos mais pessoais e criativos que prefiro.
Eu ainda não havia escolhido o tema da minha dissertação quando tive subitamente a ideia de mergulhar em um assunto que já me inquietava: a idolatria. Explico. Ao longo do curso, eu sentia uma necessidade muito forte de embelezar-me, de encontrar uma imagem que me agradasse, mas não assumia completamente esse desejo por achar que era algo fútil. Por não assumi-lo, o desejo me “tomava”: eu me descontrolava indo a shoppings e comprando mais do que precisava — roupas, acessórios, maquiagem —, e o fazia indiscriminadamente, só para morrer de culpa depois. Entendi que isso era uma manifestação de idolatria e resolvi estudá-la para compreender melhor o que estava acontecendo comigo.
Foi assim que minha dissertação do mestrado realizou uma aproximação entre a tradição reformada e a teoria mimética de René Girard, que eu analisei como uma descrição da estrutura da idolatria. Girard é um autor católico que percebeu muitas verdades em sua leitura da Bíblia. Não manifesta muito interesse em teologia, mas sua antropologia tem bases cristãs fortes que vale a pena conhecer, se você entender que a teologia implícita dele contraria aspectos importantes da tradição reformada.
Após aprofundar a percepção, com Kuyper, de que não há um centímetro quadrado em todos os domínios de nossa existência que não pertença a Cristo — um dos mais poderosos antídotos contra a idolatria — , entendi como algo bom e desejável o crescimento de meu interesse pela imagem, colocando-o diante de Deus; com a boa teologia do Jumper e minhas constantes orações, essa busca deixou de ser uma fonte de angústia para mim. Eu descobria afinal que teologia e beleza podem andar juntas! Estudei informalmente o tema por alguns anos até resolver fazer uma formação em consultoria de imagem em 2017, com Patricia Marques da Closet Inteligente, e uma segunda formação em 2018, com Érica Minchin, para solidificar os conteúdos e compreender melhor as identidades dos estilos pessoais. Transformei aquela paixão por encontrar uma imagem que me representasse em um trabalho que tem me dado grande prazer. E o interesse teorético continuou, dessa vez mais centrado: abri o site Teologia & Beleza para juntar tudo isso, arte, teologia e consultoria. Coloquei um blog dentro do site, trazendo ali os artigos mais amados que se coadunam com a proposta e adicionando novos. Acima de tudo, quero trazer a lume as profundas interrelações entre a beleza de Deus, a beleza da criação, a beleza da arte e a beleza pessoal, descobrindo-as continuamente a cada dia e abençoando a igreja com um olhar mais abrangente e admirativo da multiforme sabedoria de Deus.
* Você pode começar com Apologética cristã e O pastor reformado e o pensamento moderno.
**Por ser filósofo, Dooyeweerd é melhor compreendido após uma boa introdução. A que eu li foi Contornos de uma filosofia cristã, de Kalsbeek.
***Sou apaixonada pelo triperspectivalismo, desenvolvido por Frame e seu companheiro teorético Vern Poythress. Só há introdução ao trip (como chamo carinhosamente) em inglês, mas é excelente: Theology in Three Dimensions, disponível em Kindle. Mas o trip está presente como pressuposto em várias obras de Frame e Poythress traduzidas para o português. De Frame, destaco o apaixonante Doutrina do conhecimento de Deus, um desses livros que me fazem louvar a Deus a cada página.
****Recomendo especialmente a trilogia O Deus que se revela, O Deus que intervém e A morte da razão. E também Verdadeira espiritualidade, O grande desastre evangélico, No Little People, Letters e todos os que você encontrar desse grande mestre, que era pessoalmente acessível aos estudantes confusos e os recebia em casa, falando-lhes à mente e ao coração.