Seguindo a tradição familiar (ou seja, daqui de casa, hehe), André publica seu top ten no dia 31, e eu, no primeiro dia do novo ano. A data ficou como dia 2, mas, tecnicamente, ainda é dia primeiro porque são duas horas da manhã. Vamos lá!
O caçador de pipas (Hosseini)
Abri 2021 desejando leituras leves e cheguei a esse livro sem grandes expectativas, nem emocionais, nem literárias — só para perceber que de leve não tem quase nada. O forte do romance não é a linguagem, e sim a história, um soco no estômago que valeu a pena ter recebido.
Woody Allen: a autobiografia (Woody Allen)
Esse sim foi uma das leituras leves e divertidas do ano, embora Woody tenha contado em mais pormenores a guerra contra sua ex, Mia Farrow, história assustadora mas crível do ponto de vista do cineasta.
Compramos um zoológico (Benjamin Mee)
Essa foi a outra leitura leve e divertida do ano. Eu e André amamos bichos e lemos juntos, ele em voz alta enquanto eu fazia a comida ou arrumava a cozinha. Mee escreve bem, é um excelente piadista e foi o doido que resolveu morar dentro de um zoo, assumindo a administração sem nenhuma experiência prévia, mas saindo-se excepcionalmente bem. Ficamos com vontade de conhecer o local, na Inglaterra.
Abuso espiritual (Alcione Emerich)
Feridos em nome de Deus (Marília de Camargo César)
2021 foi o ano em que mergulhei fundo no estudo do tema abuso (espiritual, emocional, sexual). Não sei até que ponto o estresse de pesquisar o tema contribuiu para a piora da síndrome do intestino irritável, que me deixou sem conseguir me mover muito em outubro, mas certamente o descanso a que fui forçada me deu tempo para ler e processar muitos aprendizados. Essas duas obras, de autores brasileiros, ajudaram-me nisso. Continuarei a aprofundar minha compreensão do fenômeno do abuso, mas, se Deus quiser, eu o farei sem perder de vista os aspectos mais belos e prazerosos da vida.
Coisas que não quero saber (Deborah Levy)
O homem que viu tudo (Deborah Levy)
O primeiro me fisgou desde o primeiro parágrafo e o segundo me fez apaixonar. Foi sobre o segundo que tuitei: “É muito melhor ver tudo fragmentado, mas real, do que ver tudo coerente e ordenado, mas falso.” Levy transpôs isto não apenas para a história, mas para a linguagem. Essa convergência entre narração e forma é o que faz a grande literatura. Levy foi a descoberta literária do ano. Espero ler muitos outros ainda!
E se eu parasse de comprar (Joanna Moura)
Acompanho o blog de Jojo, Um ano sem Zara, desde o comecinho. Recomendo esse livro para todos aqueles que sentem um impulso irresistível para compras e depois se arrependem. A franqueza da autora revela muitos insights sobre o descontrole no consumo que podem realmente ajudar quem teve ou ainda tem esse impulso.
[Ainda sem nome] (Francine Walsh)Tive o privilégio de prefaciar o livro da querida amiga Francine, que ainda não foi publicado mas o será em breve pela editora Dois Dedos de Teologia. Figuraria facilmente em uma lista minha das dez melhores obras sobre feminilidade bíblica. Deixou-me feliz pelo equilíbrio no trato dos assuntos (mesmo os mais sensíveis) e pela abordagem cheia de empatia e cuidado. Muitas autoras norteamericanas, na minha opinião, pecam por uma linguagem e um foco excessivamente duros e até autoritários, como se puxassem a orelha das leitoras a cada página. Francine não deixa de admoestar, mas escreve com amor — essa é sua maior qualidade. Editores, recomendo que fiquem de olho nas revelações locais. Que 2022 seja um ano com mais estreias brasileiras tão abençoadoras como essa!
Pode ser que eu morra hoje (Emilio Garofalo Neto)
E por falar em bons autores nacionais, Emilio é um pastor apaixonado por literatura. Conta histórias deliciosas que nos fazem, a um só tempo, recuperar um gostinho de infância e nos deparar com as grandes e difíceis questões da vida. Deste, apeguei-me à frase: “Talvez a vida seja, no final das contas, crepuscular.” Deixo ao leitor o prazer acridoce da descoberta do contexto e do tema.
Boa leitura!