Sempre soube desde pequena que era uma apaixonada pela beleza artística, principalmente música e literatura. Era intensa, sensível demais. E também era criativa, gostava de escrever sobre questões cruciais. Queria entender Deus, a morte, o propósito da existência. Porém, por algum motivo, acabei fechando meu caminho para a beleza feminina, a beleza pessoal. Tinha sido uma criança toda empetecada pela avó e pela mãe, que me enfeitavam escolhendo roupas e acessórios, inventando penteados, pintando minhas unhas.
Na adolescência, porém, passei a rejeitar todo tipo de embelezador externo, desprezando a ideia de me adequar a qualquer orientação nesse sentido. Enquanto as adolescentes da escola aprendiam a se maquiar e a se vestir, eu gostava de vociferar contra a moda e dizer que a maquiagem ocultava o rosto e feria a autenticidade. Vocês não imaginam como eu andava, para a consternação de minha mãe. Entre os anos 1980 e 1990 ainda não estavam na moda esses rasgadinhos na calça, na jaqueta, nas blusas de malha, mas provavelmente eu a antecipei, porque andava com blusa de malha furada, sapato aberto na ponta tipo boca de jacaré e por aí vai… mas eram rasgados porque estavam velhos mesmo! Ou seja, não ligava nada para minha imagem. A única coisa que eu me permitia amar era os perfumes (e eles também são uma parte importante da imagem, como vim a descobrir).
A primeira coisa que eu pensei em ser na vida foi psicóloga. Estava bastante decidida, pois meu maior desejo era ajudar pessoas de um modo profundo e significativo. Para a minha grande surpresa, após um ano de Psicologia eu me descobri muito infeliz, deslocada, sem motivação. Ficava me deprimindo pelos corredores da faculdade e escrevendo poemas. Por fim entendi que faltava ali o elemento estético que eu tanto valorizava.