Comecei a fazer análise muito cedo, porque era uma adolescente angustiada e triste. Queria me entender. Uma vez, a psicóloga me perguntou se eu me achava bonita.
— Como posso me achar bonita, se estou toda podre por dentro? — foi a resposta.
Anos depois, essa constatação honesta foi mais uma amostra das palavras que Deus fez vir à minha mente para me ajudar na conversão. Sim, eu estava realmente podre por dentro, mas Cristo transforma podridão em vida, como literalmente havia feito com Lázaro e, simbólica e espiritualmente, com Pedro e todos os que percebem suas almas como um fedido caos moral, emocional e volitivo.
Mas, e quanto a sentir-me bonita? Eu tinha ainda um longo caminho pela frente. Sim, já podia considerar-me justificada e santificada pelos méritos de Cristo. A limpeza do terreno estava feita, a terra, bem semeadinha; a totalidade de seus frutos só se veria plenamente lá, com Ele, mas alguns indícios já podiam ser saboreados. O negócio é que, na minha cabeça, eu via a inteligência e a beleza como capitães de times opostos, e havia optado pelo primeiro. Gemia, porém, por beleza, junto com toda a criação divina e também humana: música, dança, teatro, pinturas e esculturas, romances e poemas. E chorava por ver beleza em mim, que eu participasse disso pelo menos um pouquinho. Como demorei para reconhecer e derramar esse choro! Parte de mim não queria ser bonita; havia desistido antes de entender que podia, sim, aprender algumas coisas — a principal delas, que não só podia, mas deveria enxergar através dos olhos generosos de Deus, que sempre veem de verdade.
Eu considero um marco o dia em que, mais ou menos cinco anos atrás, cansada de só perceber a cor cinza mesmo nos dias ensolarados, eu derramei lágrimas epistemológicas no chão da minha sala. Os choros de corpo todo no chão — quando a gente se estica todinha para comunicar a Deus o nosso estado down, down, down diante Dele — são sempre inesquecíveis. Esse foi. Eu disse a Ele que estava renunciando a enxergar o mundo, os outros e a mim mesma com meus próprios olhos. Que Ele enxergasse por mim. Que eu visse por procuração — por revelação.
Eu já sabia, sim, que só enxergamos por revelação. Mas daí a tornar isso meu, manejar o saber e o hábito, são outros quinhentos. Treino para a retidão, como disse Paulo a Timóteo. Músculos do espírito que aprendem a mover-se na força do Espírito.
Eu sou convertida há 25 anos e sei que as emoções vão na rabeira da santificação. Sim, elas mudam muito mais devagar que a ação e o pensamento. Sou lenta para aprender e sei que, de novo, estou só começando. Ao mesmo tempo, sempre que olho para trás, é como se tivesse deixado lá uma pessoa muito diferente — que hoje mais me comove que me deixa irada, e como isso é importante! Sim, estou muito mais alegre. Não imune à tristeza, porém não sinto mais o sabor de desespero dos frutos velhos. O pecado é a velha natureza, quase como respirar; mas a vida cristã é uma contínua e alegre novidade. Uma bela novidade — e hoje sei que faço parte disso.