Sem categoria

Top Ten, ops, Top Five 2023

By 7 de janeiro de 2024 No Comments

Como sempre, eu gostaria de ter lido mais no ano que passou, mas 2023 foi um dos anos mais desafiadores em termos de crescimento pessoal. Doloroso e precioso nas mãos de Deus.

Por isso fiz uma lista, não de dez, mas de cinco livros que realmente me impactaram, todos eles escritos por mulheres e todos eles abordando o tema do abuso de alguma forma. (Sim, apesar dos conselhos de minha psicóloga, não consegui fugir do tema, haha!) Antes, duas menções honrosas:

Príncipe Harry, O que sobra

Ainda que o leitor possa questionar a visão particular do príncipe Harry sobre seu contexto familiar — e lembro que vi muitos comentários depreciativos sobre ele, tanto de conservadores quanto de progressistas —, o livro nos faz refletir sobre o valor da privacidade e o poder da mídia para imprimir na cultura local representações cuidadosamente cultivadas, para o bem ou para o mal.

Matthew Perry, Amigos, amores e aquela coisa terrível

O genial ator de Friends, que interpretou Chandler Bing por dez anos (de 1994 a 2004), morreu em outubro de 2023, pouco tempo depois dessa leitura. Contou sua história com uma vulnerabilidade rara no meio artístico. Estava lutando bravamente contra o alcoolismo, com algumas recaídas mas no geral de modo bem-sucedido, e buscando a Deus. Meu desejo é que o tenha encontrado.

Top Five

Lucy Maud Montgomery, Anne de Green Gables

Embora continue preferindo Monteiro Lobato, que considero mais rico — tanto em reflexões quanto na forma literária — , lamentei não ter lido esse clássico da literatura infantil quando era criança, pois certamente consideraria Anne uma “alma irmã”, identificando-me com ela em seu amor pela beleza, sua imaginação e sua infância um tanto solitária. Ao mesmo tempo, seria muito inspirada por sua gratidão e sua disposição em servir.

Sarah Stankorb, Disobedient Women [Mulheres desobedientes]

Stankorb é uma jornalista premiada, com artigos em inúmeros jornais e revistas de renome nos EUA. Foi criada na fé cristã mas não a segue. O título não deve repelir os cristãos, pois não diz respeito à desobediência a Deus, e sim ao líder religioso que abusa de seus liderados. Além de demonstrar muita empatia com os sobreviventes desse tipo de abuso — que é provavelmente um dos mais destrutivos, por ser feito em nome de Deus — , constrói em seu livro um relato sério e honesto. Confesso que eu já sabia em detalhes de muitas das histórias que figuram na obra, sobretudo sobre Douglas Wilson, por causa de minhas pesquisas. Fico feliz que estejam publicadas em livro e espero que em breve aportem por aqui.

Juhea Kim, Como tigres na neve

Devorei esse romance de uma sentada. É o primeiro de Kim, que entrelaça as histórias de uma menina vendida como cortesã e um filho de caçador em uma Coreia ocupada pelos japoneses. Apresenta a brutalidade do poder em toda a sua crueza, mas também a complexidade humana, gestos de bondade e gratidão totalmente inesperados. Nada na história acontece ao modo dos contos de fada, com finais felizes bombásticos, mas há uma delicadeza que não passa despercebida e que deixa no leitor a sensação de preciosidade.

Kristin Du Mez, Jesus e John Wayne

Esse livro, publicado aqui pela Thomas Nelson, mereceria mais destaque em nosso meio. Não é uma obra teológica, mas sim histórica, registrando as relações complexas — e geralmente íntimas demais — entre o meio evangélico americano e a direita política. Inicia-se no tempo em que Billy Graham fazia suas cruzadas evangelísticas e conclui nos anos 2010, com o movimento MeToo, que descortinou o abismo gigantesco entre convicções e práticas ao revelar vários nomes conservadores famosos envolvidos em abuso eclesiástico. É um relato desconfortável para nós, mas necessário, visto o quanto o modo conservador americano de lidar com política tem seduzido a muitos cristãos no Brasil. Não peça à autora uma perfeita correção teológica, nem aquele tom de autoajuda e esperança que vemos em tantos livros evangélicos, mas ouça-a em seus próprios méritos.

Naghmeh Panahi, I didn’t survive: Emerging Whole after Deception, Persecution and Hidden Abuse  [Eu não sobrevivi: emergindo inteira após engano, perseguição e abuso oculto]

Naghmeh é uma cristã iraniana. É uma delícia ler seu relato de conversão e atestar a sinceridade com que busca manter-se íntegra em Cristo. Ao mesmo tempo, é terrível acompanhar seu dilema diante de um marido secretamente abusivo que foi considerado um herói ao sofrer perseguição e ser preso por causa de sua fé, no Irã. Contar ou não contar? Por fim, ela se tornou uma das mais importantes vozes no meio evangélico contra o abuso. Imperdível.

Leave a Reply

This error message is only visible to WordPress admins
Error: No posts found.

Deseja receber novidades no seu email?