Esta semana, perguntei no Instagram: “Quais são os seus livros da vida?” As respostas foram variadas. Apareceram não só pensadores cristãos de peso como Agostinho, C. S. Lewis, Francis Schaeffer, João Calvino, mas também vários e excelentes romances. Fiquei feliz com a quantidade de literatura presente!
Então quis trazer aqui uma lista dos livros que mais me marcaram na vida. Já aviso, conforme disse na enquete, que a Bíblia é hors concours, ou seja, tão vencedora soberana de qualquer lista que nem precisa ser mencionada. Vamos lá.
Na infância — Costumo dizer que aprendi a escrever com Monteiro Lobato. Amo principalmente Gramática da Emília, Viagem ao céu e Os doze trabalhos de Hércules… mas qualquer um é um regalo. Confesso que não li muito de sua obra para adultos, mas gostei demais da coletânea de cartas A barca de Gleyre. Lobato era um humanista confuso e empolgado com o progresso do Brasil que, ao desiludir-se de vez, voltou-se para o mundo das crianças e aí, sim, prestou um serviço enorme à literatura do país.
Na pré-adolescência — Adorava Fernando Sabino, naquela coleção Para Gostar de Ler. Cheguei a deixar um presente com o porteiro do prédio dele, em Ipanema: um vinil de jazz. José Mauro de Vasconcelos me partiu o coração de vidro com Meu pé de laranja lima: o amor filial de Zezé pelo “Portuga” ecoava o meu por minha avó paterna, que morreu quando eu tinha nove anos de idade. Maria José Dupré tocou de novo as cordas sensíveis da minha solidão ao escrever Éramos seis. E aos 14 Anne Frank se tornou minha melhor amiga póstuma.
Literatura francesa — Por ser a área de meus estudos em Letras, acabei lendo literatura francesa mais que qualquer outra. Le Cid, de Corneille, traz um tema anacrônico — o conflito entre amor e honra no século XVII — mas me fez chorar duas vezes: uma universalidade que ainda preciso compreender melhor. Poemas em prosa de Baudelaire são leituras nem sempre agradáveis, mas recompensadoras para o pensamento e a imaginação. Fred Vargas é a melhor autora de livros policiais do mundo. Amélie Nothomb (que na verdade é belga, assim como Tintin) escreve de modo maravilhosamente pessoal; eu comporia um artigo enorme sobre Higiene do assassino, que me ajudou muito a entender a idolatria. Outro autor que trata do tema, René Girard, foi objeto de dissertação do meu mestrado em teologia. Li quase tudo dele, mas o que detonou toda essa reflexão sobre a idolatria (e de quebra me tirou de uma situação existencial intolerável) foi Mentira romântica, verdade romanesca. De Julien Green, Le visionnaire é um romance que homenageia a arte literária; um dos poucos que, ao acabar de ler, chorei de saudade. Ainda acho a prosa de Green — um francês anglicizado — uma das mais bonitas. Pena que esse não tem tradução. Amo igualmente a peça de teatro Arte, de Yasmina Reza (falei dela em artigo no Coram Deo, a vida perante Deus: ensaios em honra a Wadislau Gomes — figurar ali foi uma honra enorme para mim!). Nothomb e Reza são contemporâneas vivas: a primeira tem 53 anos e a segunda, 60.
Literatura mundial — 1984, de George Orwell, foi a semente do evangelho que Deus lançou em mim após escavar o solo, assim como Aslam arranca a pele de Eustáquio. Um dia conto. Livros do Nelson Rodrigues (mais as crônicas que os contos) me prepararam moralmente, fazendo-me questionar a mentalidade e os pressupostos da esquerda muerte! ainda em voga entre nós. O grande Gatsby, de Fitzgerald, deu-me de presente mais uma dolorida perspectiva da idolatria. Thomas Mann, com Os Buddenbrook, embalou-me em uma prosa inesquecível, tornando os acontecimentos mais cotidianos dessa família algo digno de lembrança; ainda estou lendo A montanha mágica. Também gostei muito de O sol é para todos, de Harper Lee, e Gilead, de Marilynne Robinson. Deve haver outros, mas estou citando de cabeça para que as menções sejam espontâneas.
Teologia — Aqui, todos os que li dos gigantes João Calvino, Francis Schaeffer, C.S. Lewis, Cornelius Van Til, Herman Dooyeweerd, John Frame. Destaque para Calvinismo, do Kuyper, que me abriu as portas da cosmovisão reformada, e Idols for Destruction, do Schlossberg, que complexificou abismalmente as problemáticas atuais. As novidades foram Coisas da terra, do Rigney, e Notas da xícara maluca, do Wilson, que ajustam e organizam, em nossas mentes, o motivo Criação (estamos precisando!).
Deus os abençoe e lhes dê leituras maravilhosas para o novo ano!