Desconheço peças instrumentais tão engraçadas quanto as de Rossini ou Ray Conniff. Apesar das muitas características que os distinguem — época, estilo, o primeiro compositor e o segundo arranjador — , ambos são mestres em apresentar aos ouvintes o ridículo inerente à condição humana. (Aqui penso, sobretudo, na abertura de La Gazza Ladra — vídeo acima — e em Brazil.) Mas assinalo uma diferença fundamental: enquanto Rossini me emociona, Ray Conniff apenas me faz rir. E, à parte as qualidades musicais, talvez seja dessa natureza o abismo que os separa — o ridículo de Conniff, provavelmente inadvertido, resulta do contraste que há na abundância sentimentalista executada com perfeição formal; já o ridículo de Rossini é multifacetado como uma cosmovisão, com seus aspectos heroicos, trágicos, líricos, e subjaz às narrativas de todos nós.

Leave a Reply

This error message is only visible to WordPress admins
Error: No posts found.

Deseja receber novidades no seu email?